A nova era

Tal como a seiva de Abril
o sangue desponta para a renovação secular da indigente arquitectura humana
Velha árvore, miserável e estéril
de tronco sombrio atolado na lama
Lodaçal engodado em dicionário social. Esquivo e pueril
Segadora de dados. Planificadora de caos. Catequista do drama

Sobre o estrume dos erros, que ainda ali assentam
eis que algumas flores de ramas incertas. Caem
como folhas mortas nos chãos crassos, onde se retraem
Com os gemidos dos abrolhos que de dor rebentam

Da velha árvore que estremece com o assentamento da primavera
as flores vermelhas do belo bosque. Despontam
sanguinolentas, de ramaria de outra era

Dos botões inchados que dela rebentam
germinados no suco puro. Que adormecera
Rompe o silêncio que os apoquenta

E aparecem novas folhas e novas flores
que a natureza em transição suporta
Novas brisas e nos partos ternos rumores
antes que tristes outonos batam à porta

Do terriço. Cresceram matos profundos
Onde ninhos encontram abrigo. E frutos amadurecem
Com a brisa matinal desperta o alvorecer de novos mundos
Tudo volta ao reinicio da vida universal. E novos homens renascem

As religiões e os estados ainda existem. Em alguns olhos teimosos
E os cadáveres guardaram a aparência humana quando à terra foram confiados
A palidez, a rigidez, a decomposição dos mortos, mal cheirosos
Que se revoltam no estrume dos seus actos afanados
Pretendem voltar ao novo mundo. Derriços e presunçosos
Prometendo novos estatutos. Mas exonerando os erros passados

Mas tudo vai cessar. Para a antiga assembleia
A velha sociedade agoniza, nos fins dum ciclo caricatural
E nas dores matriciais do florir de nova ideia
O homem será! Ainda. Mas menos animal

A velha ogra está seca e quase defunta. Vai morrer!
Ela. Que bebeu o sangue humano desde o inicio da causa
para apaziguar a sua sede maldita. A sua avidez de poder
mantendo o homem afogado. No lamaçal. Sem pausa

As provocações, as conspirações e crueldades incessantes de nada lhe servirão
Entramos no inverno vetusto, este mundo cruel tem que acabar

No horizonte, uma nova primavera desponta. E novos homens renascerão
em macios ninhos, pousados em terras férteis. Onde encontrem quem amar

- Homens de outrora de estrela apagada. Com sina mais infeliz que aquela dos irracionais
Que vivem ainda sinopses de vida. Acalentando futuros normais -
É necessário que morra o velho mundo social. Onde ninguém vive seguro
Que a humanidade abandone a letargia e acorde com olhos ávidos de justiça
Que o instinto de conservação não mais respire na ruína pestilencial. Mas ar puro
Que o novo horizonte venha grávido de leis legitimas inibidas de cobiça
Que o vento seja pintado de. E para o futuro.

Fernando Oliveira

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