A maldita Barca de Caronte


Quando o homem navega com os olhos classificados
E abandona a fonte para arrumar a norma do patriotismo
Quando ele exerce a razão do conjunto e morre sozinho
A morte é só dele. Os outros que se cuidem e defendam
Haverá sempre uma intriga na estrada por mais lisa que seja.

Uma ira do caos que lhes entra no tímpano até mais não ouvirem.

Era aquela barquinha velha com panos gentis de genealogia
Que flutuava em riachos de água instintiva com sotaques de rã
Na aldeia fresca e severa com arraiais de frialdade no caminho
Na urbe recenseada com vestígios mas nenhum de armistício.

O jovem amava-se como um Eneias de virgem heroicidade.

No exílio de frente calorenta além tão além que a vida se caduca
Num cálice de liquido vermelho servido como última imagem
Cessam os brados de valentia e no passaporte aparece o nome antigo
Finou-se a juventude antes do colossal abraço de antologia.

Oh barqueiro incorrecto monetário e traiçoeiro. Oh pátria sem luz
Que rio me deste. Tanta alegria tinha no meu fóssil córrego
Oh guia maldito que velejas a minha última dor até á foz do inferno
Rio de desventura que te fez eu para me subtraíres o espírito.

Viajarei contigo asqueroso Caronte. Deixa-me saudar os amigos
Levas-me para o infortúnio nestas águas infaustas e bárbaras
Não vejo mais margens barqueiro nem folhas mortas do Outono
Não tenho rumo mas ainda sinto o cheiro do pranto do Vesúvio
Depõe-me nos seus pés e te trai Sibila te dará o ramo de ouro.

Caronte ouvia os protestos do mancebo com roupa de cruzada
De beiços tão graves e boca tão gentil como a neve do Olimpo
Perdeu a vigilância e derivou até encalhar numa ilha inocente
E nunca mais voltou a transportar indefinidos mortos ilegítimos
Segundo a lenda ainda vive resgatando vitimas de guerras ilegais.

Fernando Oliveira

Tela do pintor Júlio Santos, realizada para o poema.

Sem comentários: