Quando as musas me dão a mão

As musas eu as colho num campo tão vasto
Que a minha ideia não tem juízo da dimensão
É a graça que orna o penteado duma donzela
Um peito tão belo que nem precisa de coração
Um rosto cândido por detrás duma tímida janela
Ou uma criança foliando com o gado no pasto.

E se a amável Herato desenha uma bela cena
Com a pequena lira onde Caliope capta a voz
Não escondo que me inspiro da luz que chiava
Nas vielas que admitiam o canto dos meus avós
Clio com o pulmão aberto soprava e declamava
E a cidade era tão bêbeda provocante e morena

Que Terpsícore com a sua dança estonteante
Rodopiando até ao cais da volúpia – Euterpe
Flauteando comovida com a minha erudição
Melpomene descendo comigo vestida de crepe
Até ao rio onde todas as musas me davam a mão
Tália germinava flores Polímnia era cantante.

Urânia levou-me para a excelsa inspiração.

Fernando Oliveira

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