Todas as rosas não eram mais rosas que a tua face
Todos os lírios não eram mais amenos que a tua íris
Todas as árvores não eram mais garbosas que as tuas pernas
E as montanhas asseadas não igualavam os teu seios.
Nunca te penteaste
Deixavas que o mar o fizesse
Nem te lavavas
Deixavas que o rio te afogasse
Num rito acróstico que a corrente ameigava
Dos cabelos flor-de-viúva
Até às unhas dos pés.
Todos os adjectivos pintavam o teu retrato
E os seixos que cursavam o teu rumo
Contavam o macio de passos descalços
Aquele andar entre o perro e a andorinha
Na mata onde ninguém descansa.
Descansaste na rama cheia de pinha
Eras pomba mansa e fêmea brava
Agora nem sequer és semente.
Disse-te um dia que não morresses
Antes de chegares à foz
Tão perto estavas da nascente
Tão bem estavas entre nós.
E agora teimosa e insolente criatura
Mudo esqueleto num campo com cintura
Todos te choram e eu não choro
Já disse adeus a muita gente
Mas a ti nunca direi.
Fernando Oliveira
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